domingo, 9 de agosto de 2009

Ser inteiro ou ser em parte?


Em Guernica, Picasso denuncia a situação de fragmentação humana. Observe acima os pedaços, o descompasso e a falta de nexo entre as figuras. Eu gostaria de analisar um pouco essa idéia. Porque tenho me observado bastante, e as pessoas também, e tenho notado que este é o grande desafio da existência humana. A questão fundamental: Ser inteiro ou ser em parte. Ser ou não ser. Originariamente, a palavra indivíduo significa indivisível, o que não se divide. O indivíduo é aquele que é holístico, de holos, totalidade. Me reconheço, a cada dia mais, como um ser multifacetado, e me surpreendo comigo. Sou pelo menos duas. Sou Perséfone (mística), sou Deméter (mãe), sou Atena (intelectual), Ártemis (guerreira), Hera (esposa), Afrodite (amante). Sou em potencial todas elas, algumas realizo mais outras menos, umas desejo realizar ainda, outras não, mas o fato é que sou um ser complexo, de múltiplas relações, desejos e potencialidades. Já vivi bastante chapada, sei como é ser uma coisa estagnada e sem fluidez. Tenho muitas máscaras, o que não faz de mim uma pessoa falsa ou desequilibrada, mas o reflexo de uma essência cheia de criatividade e energia. As máscaras são muitas, na verdade bastaria saber brincar com elas, entender a transitoriedade e os ritmos de cada uma para estar em paz. Os desequilíbrios, doenças e males nascem do privilégio dado a uma parte em detrimento do todo. Cada coisa é sã no seu lugar e na sua medida. O que diferencia o veneno do remédio é a dose. A alma não é pequena, é um universo em simbiose com outros universos. Minha conexão interior é realmente divina quando há aceitação, quando incluo a tudo sem julgamento e conflito. Sou fêmea que arde e uiva de tesão, e sou anjo que canta de pura graça. Ser inteira é minha escolha. Mas isso não é fácil. Precisa de um esforço de transcendência, de coragem e de fé. Não consigo ser só um pedaçinho, não posso evitar, eu sou mais forte do que eu, eu me transbordo.

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