domingo, 2 de agosto de 2009

Eu sou mais forte do que eu!

Em nota no livro "Uma Aprendizagem ou o livro dos prazeres", Clarice Lispector, a mais Perséfone (deusa do mundo avernal, inconsciente ou oculto) das escritoras modernas, diz:
"Este livro se pediu uma liberdade maior que tive medo de dar. Ele está muito acima de mim. Humildemente tentei escrevê-lo. Eu sou mais forte do que eu".
O que em mim me transcende, que de fato sou eu.
O eu, que me limita no tempo e no espaço, no mundo tridimensional, é a menor parte do meu ser, embora tome quase todo o meu tempo.
O tempo! Quero aprender de novo com os maias, que dizem que o tempo é arte. Mas nesse momento, tempo para mim é tormento! Me perdoem os meus leitores, se ainda tenho algum, mas tenho escrito por pura agonia. Tenho um eu, apesar de eu ser mais forte do que eu. O problema é que o eu é amigo do tempo, enquanto o que é mais forte do que o eu, é amigo da eternidade. E Eu, o meu eu total, existo tanto no tempo quanto na eternidade. Em parte sofre, em parte transcende.
Em parte sofro, em parte transcendo. Poderia continuar com isso, numa escrita bem Lispectoriana, agonizante, mas não quero. Acho chato hoje em dia ler Clarice, insuportável. É uma literatura realmente cheia de contra-indicações. Com todo o respeito a literatura moderna, que trouxe o eu para o centro da narrativa, eu que vivia reprimido. Mas hoje os tempos são outros, o eu fala de si, faz terapia. Mas precisa mais do que isso, precisa de cura. Precisa deixar de ser eu. Olha a loucura! O tamanho do salto que temos que dar hoje! Quero o silêncio, a união interna, a paz. Quero escrever para informar, para transmitir conhecimentos que podem a um outro transformar, como a mim transformou. Para resgatar o saber antigo, dando a ele roupa nova.
Quero escrever para transmitir meus ossos! O que é indestrutível em mim! Não quero a narrativa do eu, essa é só agonia, e isso o que vês aí expresso não são palavras, nem pretende ser literatura moderna, tal qual Virginia Wolf e similares, não quero enganar ninguém, isso aí escrito é só o lamento de um pobre eu aflito.

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