sexta-feira, 30 de julho de 2010

Diálogo entre Avatares

-Eu vejo você.
-Eu vejo você.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Reconstrução

Reconstrução

Despi minha couraça
abandonei o escudo
perdi todas as minhas certezas
o chão caiu.

Abismo sem rede.
Queda livre.
Ponto nulo,
zero.
Nada.

Livre de tudo
com o coração na mão
sinto meus pés baterem como asas
pulsos correndo meu corpo até a ação.

Sementes em busca de água esticam-se até nascer a nova Flor.
(Betina Kopp)

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Oração dos Músicos

"Deus, Todo-Poderoso, que nos destes a vida, os sons da natureza, o dom do ritmo, do compasso e da afinação das notas musicais, dai-me graça de conseguir técnica aprimorada em meu instrumento, a fim de que eu possa exteriorizar meus sentimentos através dos sons. Permiti, Senhor, que os sons por mim emitidos sejam capazes de acalmar nossos irmãos perturbados, de curar os doentes e de animar os deprimidos; que sejam brilhantes como as estrelas e suaves como o veludo. Permiti Senhor, que todo o ser que ouvir o som do meu instrumento sinta-se bem e pressinta a Vossa Presença".

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Nigredo

Não me peça para esquecer os erros,
Quero a memória vigilante para os novos caminhos,
Já fui cego e surdo com os olhos e ouvidos que Deus me deu para ver e escutar.
O meu pensamento encontrava trevas em plena luz,
A noite sofria a ausência da lua e das estrelas,
E o mar imenso era negro e silencioso.
Há tanta paisagem no mundo e há tantos olhos distraídos.
Não me peça para esquecer os erros,
Eles serão minha bússula,
No grande oceano da esperança.

(Cassia Bigoni)

sexta-feira, 9 de julho de 2010

O Apogeu do chão e do pequeno

Por Mariana Montenegro Martins
“Eu via a natureza como quem a veste”.
(Manoel de Barros)
Como explicar o desejo? Posso explicar de umas cem formas, mas ele continuará desejo, uma pulsão que vêm de um lugar desconhecido, submerso, onde palavras mal explicam, e só fazem evocar forças. Para traduzir esse mundo faz-se uso de símbolos, de metáforas e alegorias. Balbuciam-se sons e emanam-se calor e cores. Para traduzir esse mundo faz-se também poesia. Cabe a alguns poetas de raro talento alcançar os sub e meta mundos do desejo humano, que não se há de aprender, mas só de apreender por inteligências também sensíveis.
Na minha experiência de ler a poesia de Manoel de Barros um desejo vem à tona, desejo de apreender, de vivenciar o próprio ser da coisa de que fala o poeta. Todas as coisas na poesia de Manoel são verdadeiros indivíduos, tudo, mesmo as menores coisas, os dejetos do mundo, recebem nome e dialogam com todas as outras. Sua poesia me leva a capturar o ser da coisa falada, e isso, com toda singeleza, prezando o delicado essencial, mesmo no que há de mais bruto, repugnante ou corriqueiro.
Apreendendo, e, com aquela chave mágica, que me transfigura o olhar para ver o dentro das coisas, me aproximo do universo da poesia de Manoel de Barros. Vou tateando, devagarzinho, olhando pelo buraco da maçaneta da porta, entrevendo um pouco de árvores, um pouco de horizonte, algumas lagartixas e borboletas azuis que dançam no céu entre rãs, - entardecidas!
"Eu via a natureza como quem a veste", diz Manoel. Sou toda sensibilidade ao lê-lo, sou o sonhar primaveril, a folha seca no chão outonal, sou todas as estações, na aventura poiésica onde me inscrevo. A poesia de Manoel expressa um desejo meu, e de muitos, já que é um poeta popular. Por criar mundos, e não apenas linguagem, cada qual ao lê-lo há de ter a sua própria experiência de viver e ser nesse mundo todo ele reinventado de Manoel.
Mundo que é, na minha experiência, um mundo onde todas as coisas, pequenas ou grandes, todas elas, figuram no mesmo plano. Mesmo o mais desprezível e escatológico é valorizado. Vejo Manoel a reanimar a Alma do Mundo, e todas as coisas que toca com suas palavras, sensivelmente ganham importância e individualidade. Para Manoel, todas as palavras pequenas, que remetem a coisas insignificantes, ganham tom de verdadeira oração:
“O mundo meu é pequeno, Senhor. Tem um rio e um pouco de árvores. Nossa casa foi feita de costas para o rio. Formigas recortam roseiras da avó. Nos fundos do quintal há um menino e suas latas maravilhosas. Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas com aves. Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco, os besouros pensam que estão no incêndio. Quando o rio está começando um peixe, Ele me coisa. Ele me rã. Ele me árvore. De tarde um velho tocará sua flauta para inverter os ocasos”. [1]
Essa vidinha que parece prosaica é a vida de Manoel, homem do Pantanal mato-grossense, que pôde “comprar” seu ócio para viver na companhia das palavras e da natureza. Existe um afeto explícito pela natureza na sua poesia e na sua vida. Afeto esse que tanto carecemos no mundo atual, onde a natureza está sendo destruída, por falta dessa delicadeza, desse respeito pelas menores vidas, seja, animal, vegetal, mineral, ou por esses homens e mulheres de vida simples.
O grande desafio ambiental nesse século está em nos reconhecermos como entes irmãos de todos os seres vivos, de conviver de forma harmoniosa com toda a vida planetária e solar. Esse desafio, que é tanto da ciência, da política, da educação, enfim de todas as esferas da sociedade, passa por uma questão subjetiva e sensível. Significa que precisamos enquanto humanidade aprender um modo novo de viver, que considere todas as formas de vida num plano comum.
A poesia de Manoel nos ensina como é a experiência de ser-em-comum, dando ao humano as qualidades de animal, ao animal a qualidade de humano, e assim com todas as coisas da natureza. Ele é considerado um poeta contemporâneo cujo tema recorrente é o Pantanal. Reconheço em um filósofo da natureza uma idéia que se aproxima da poesia de Manoel de Barros.
Ele viveu por volta de 500 anos a.c, e se chamava Heráclito de Éfeso, também conhecido como o “obscuro”. É lembrado até os dias de hoje por dizer que depois de entrar no rio uma vez, nem homem nem rio serão os mesmos. Que tudo é mudança na natureza, e essa seria a sua essência, o movimento. Assim, o próprio modo de ser da natureza é não ser, ou seja, é criado pelo movimento, pelas dinâmicas de ser e não ser. Então, tudo tende sempre a mudar, a se reinventar.
A idéia que, a meu ver, aproxima esse filósofo da natureza de um poeta moderno do Pantanal como Manoel, é a visão de mundo não dicotomizada, onde os opostos são reconciliáveis e coincidem entre si. Dizia Heráclito: “O contrário em tensão é convergente; da divergência dos contrários, a mais bela harmonia” (1980:49). Essa frase me remete à poesia de Manoel. E me faz pensar no modo simples com que esse poeta faz as diferenças e os opostos coincidirem. Para o poeta das jovens terras pantaneiras, ocupado com o mundo sensível, toda palavra é substância e substantivo, na reinvenção do seu olhar.
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Bibliografia:.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A Primavera

No quadro: Vênus ao centro. As 3 Graças. A ocidente está Mercúrio, o mensageiro solar com suas sandálias aladas, Flora de vestido florido jogando flores para o espectador e Zéfiro no momento da paixão fulminante pela ninfa à direita do quadro.