quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Perséfone


Reencontrei escritos de Clarice Lispector essa semana. Reencontrei a mulher Perséfone em mim, e a princípio quis negá-la. Perséfone representa o arquétipo da mulher que conhece a "noite escura da alma". É a mulher que fez a descida ao mundo do Hades, ao mundo oculto, e que perdeu a inocência.
Perséfone corresponde na mitologia hindu à deusa Kali, que no Evangelho de Ramakrishna é descrita da seguinte forma:

"Seu pescoço é envolto por uma guirlanda de cabeças, sua cintura com um cinturaõ de braços humanos, duas de suas mãos portam armas de morte, e seus olhos faíscam lampejos de fogo, mas sentia em seu hálito o toque balsâmico do meigo amor e via nela o germe da imortalidade. (...) Ela é o símbolo máximo de todas as forças da natureza, a síntese de suas antinomias, a Derradeira Divindade em forma de mulher".
Perséfone era filha de Deméter (a deusa mãe, a terra) e de Zeus. Ela foi raptada de sua mãe, levada ao mundo subterrâneo, e lá se casou com Hades (a morte), e dessa maneira obteve a sua iniciação. Não queria me identificar com Perséfone, mas é fatal. Queria me manter inocente, imaculada, longe de tudo que é escuro. Não queria, mas obtive muito deste arquétipo. Não sou capaz de negar a minha descida, não posso negar meu aprendizado.
Não posso negar a escritora brasileira mais Perséfone de todas, que foi Clarice Lispector. Não posso negar Helena Petrovna Blavatsky, a grã-ocultista, criatura espantosa! Não posso negar os olhos de trovão do Yogananda. Não posso negar Iansã, Paula Márcia e todas as prostitutas do mundo. Não posso negar a feiúra, a sombra, o mal, a loucura.
Não posso mais negar nada, as cicatrizes falam por si, tudo isso agora faz parte de mim: A serpente é minha amiga. O fruto proibido é minha lição. A morte é meu companheiro.

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