terça-feira, 24 de novembro de 2009

'República', livro III - Platão

Tratando a respeito da música, no diálogo sobre a República, Platão assevera que a graça e a harmonia são irmãs gêmeas da bondade e da virtude, e sua fiel imagem, e que há uma ligação íntima entre a falta de graça, de ritmo, de harmonia e a maldade em palavras e modos de ser (cf. Platão, 'Repúblida', livro III).
Mais ainda, ele admite que a harmonia musical e a 'música da alma', isto é, a virtude, se atraem, se amam e se inflenciam reciprocamente. Se o semelhante agrada ao semelhante, é evidente que a alma entregue aos vícios sentirá atração pelo que é feio.
Boécio repetirá essa lição no 'De Institutione Musica', ao mostrar que se a harmonia causa prazer ao homem é porque nele há uma harmonia semelhante, ambas entram em acorde. O prazer estético seria o efeito do encontro amoroso entre duas harmonias irmãs: a que existe no sujeito e a do objeto.
Além disso, Boécio, seguindo Platão, mostra que há sempre uma interação entre a música e a alma; ou, utilizando termos medievais, a música humana e a música exterior, qualquer que seja ela, se influenciam mutuamente.
É natural que uma pessoa alegre componha cânticos jucundos e se rejubile ainda mais quando ouça canções alegres... Tendo em vista isso, Platão pergunta qual deve ser o papel da música na educação. Para ele, a educação musical era a mais poderosa, porque permitia introduzir na alma da criança, desde a mais tenra infância, a graça e o amor à beleza e à virtude. A pessoa assim educada seria a que mais facilmente perceberia a beleza e a harmonia. E como não há amor sem ódio, tal pessoa seria também a que mais odiaria o feio e o mal, a que seria mais suscetível a qualquer coisa que ferisse a harmonia, a que mais fortemente reagiria contra as deformidades. E pergunta Platão: 'não saberá (tal pessoa) louvar o que há de bom, recebê-lo com deleite e, acolhendo-o em sua alma, nutrir-se dele e fazer-se um homem de bem, ao mesmo tempo que, detesta e repele o feio desde criança, mesmo antes de poder raciocinar? E assim, quando chegar a razão, a pessoa educada dessa forma a reconhecerá e acolherá com maior alegria, como uma velha amiga (Platão, 'República, livro III).
Educados musicalmente 'os jovens crescerão numa terra salubre, sem perder um só dos eflúvios de beleza que cheguem aos seus olhos e ouvidos, procedentes de todas as partes, como se uma aura vivificadora os trouxesse de regiões mais puras, induzindo nossos cidadãos desde a infância a imitar a idéia do belo, a amá-la e a sintonizar com ela.' (Platão)

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